Arquitetura Brasileira – Existiu o estilo arquitetônico “Eclético”?

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Durante toda esta pesquisa sobre a arquitetura da antiga Av. Rio Branco que realizei e publiquei em meu outro site, me deparei com muitas referências ao “estilo eclético” dos muitos prédios do início do século XX, especialmente dos prédios do Rio de Janeiro.

Aos poucos fui percebendo que a memória e a cultura do brasileiro está tão precária, que mesmo profissionais da área são incapazes de definir com clareza o que aconteceu no passado e compram facilmente qualquer narrativa que lhe soe minimamente razoável.

Aqui, em referência especificamente aos estilos arquitetônicos daquelas épocas, é superficial atribuir-lhes o nome eclético, porque eclético é um termo que fala muito sem dizer nada, e porque também todos os estilos mais recentes são ecléticos de alguma forma, uma vez que reúnem em seus traços e composições uma mescla dos estilos arquitetônicos mais fundamentais, como o clássico grego, o clássico romano, o romanesco medieval, o gótico e o barroco. A partir do Renascimento, todos os movimentos artísticos se tornaram ecléticos, em maior ou menor grau, sem com isso perder a identidade mínima que os diferencia de estilos anteriores ou posteriores.

Você pode sim, dizer que A AVENIDA CENTRAL da década de 20 tinha um conjunto arquitetônico eclético, uma vez que ali se encontravam prédios dos mais diferentes estilos, indo do neo-clássico até os exóticos estilos persa ou château.

Mas o fato é que cada um dos edifícios tinha um estilo próprio bem definido, alguns mais clássicos, outros mais góticos ou “castelescos”, outros mais árabes, outros holandeses etc.

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E não é difícil perceber que a maioria dos prédios da Avenida Central se enquadrava num estilo específico muito evidente, bastante em voga na época, porém muito pouco lembrado ou citado atualmente, que é o estilo Beaux-arts, o qual surgiu na Escola de Belas Artes de Paris em fins do século XIX, como uma tentativa nacional de alcançar um estilo arquitetônico exclusivamente francês.

O estilo arquitetônico Beaux-arts se caracterizava claramente por:

  • Telhados planos com bases quadradas ou retangulares;
  • Primeiro pavimento elevado, normalmente sobre um porão;
  • Hierarquia de espaços, dos “espaços nobres” para os utilitários;
  • Janelas e Portas arqueadas ou adornadas com frontões;
  • Referências a uma síntese de estilos historicistas e, aqui sim, dentro desta linha de estilo, uma tendência ao ecleticismo, portanto em prédios do estilo Beaux-arts encontraremos detalhes arquitetônicos clássicos como balaustradas, pilastras, guirlandas, cartouches, acroteria, com uma exibição proeminente de agulhas, suportes e consoles de apoio ricamente detalhados;
  • Simetria;
  • Estatuária, isto é, esculturas, painéis de baixo-relevo, esculturas figurativas, grupos escultóricos, murais, mosaicos e outras obras de arte, todos coordenados em tema para afirmar a identidade do edifício;
  • Sutil policromia;

No início do século XX não havia a profusão desse termo “ecletismo” para denominar estilos arquitetônicos de forma séria. Os estilos mais proeminentes entre 1890 e 1920 eram o Segundo Império, o Beaux-arts e o Art Noveau, por influência francesa, influenciando obras aqui e em todos os grandes centros da época.

Basta conferir o estilo dos primeiros palácios e arranha-céus de Nova York, ninguém vai encontrar um prédio lá, dessa época, classificado como “eclético”.

O Singer Building e os prédios dos Astor confirmam isso.

Tanto é verdade que a página sobre Ecletismo em inglês não passa de uns poucos parágrafos, ganhando pouquíssima atenção em relação às outras páginas sobre arquitetura da wikipédia, sempre repletas de conteúdo. Esse tão falado estilo eclético mal é considerado nos meios internacionais.

Enfim, deixo assim minha opinião, para reforçar a grande contribuição que o estilo francês Beaux-arts agregou não só para a arquitetura carioca ou brasileira do início do século passado, mas preponderantemente para todos os grandes centros do ocidente, e que foi, junto aos outros estilos que compunham os prédios cariocas do início do século passado, destruídos com um pouco da nossa memória e cultura, como povo.

Ronaud Alves Pereira

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