Arquitetura Neogótica

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Neogótico é um estilo de arquitetura revivalista originado em meados do século XVIII na Inglaterra. No século XIX, estilos neogóticos progressivamente mais sérios e instruídos procuraram resgatar os traços góticos medievais, em contraste com os estilos clássicos dominantes na época.

O movimento de neogótico teve uma influência significativa na Europa e na América, e especula-se que tenha sido construída mais arquitetura gótica sob caráter revivalista nos séculos XIX e XX do que durante o movimento gótico medieval original.

O revivalismo gótico encontrou paralelo e apoio no medievalismo, que teve suas origens no interesse antiquarial por relíquias e curiosidades. Na literatura inglesa, o revivalismo gótico e o romantismo deram origem à novela gótica, gênero inaugurado por O Castelo de Otranto (1764) de Horace Walpole, e inspirado em um gênero de poesia medieval que parece emergir da poesia pseudo-bárdica do Ossian. Poemas como Os Idílios do Rei, de Alfred Tennyson, projetam temas modernos em cenários medievais dos romances Arturianos. Na literatura germânica o revivalismo gótico também teve raízes em tendências literárias.

Ressurgimento do Gótico

Considera-se que a arquitetura gótica nasceu com a Basílica de Saint-Denis, em Paris, em 1140, e terminou com a maravilhosa Capela de Henrique VII em Westminster, no início do século XVI. Contudo, a arquitetura gótica não morreu completamente em 1520, mas perdurou em diversos outros projetos de catedrais e na construção de templos rurais em distritos isolados da França, Inglaterra, Espanha, Alemanha e na Comunidade Polonesa.

Em Bolonha, o arquiteto barroco Carlo Rainaldi construiu em 1646 abóbadas góticas (completadas em 1658) para a Basílica de San Petronio, que estava em construção desde 1390; ali o contexto gótico da estrutura suplantou considerações a respeito de estilos mais contemporâneos. Da mesma forma, arquitetura gótica sobreviveu em ambientes urbanos durante o fim do século XVII, como é evidente em Oxford e Cambridge, onde reformas e acréscimos neogóticos aos edifícios foram considerados mais adequados ao estilo das estruturas originais do que poderia ser o barroco vigente na época. A Torre Tom de Sir Christopher Wren, no Christ Church College da Universidade de Oxford, e mais tarde as torres ocidentais da Abadia de Westminster, de Nicholas Hawksmoor, confundem as fronteiras entre o gótico remanescente e o neo-gótico recém-criado.

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Em meados do século XVIII, com o surgimento do romantismo, um crescente interesse sobre a Idade Média entre alguns connoisseurs influentes deu margem a uma abordagem mais apreciativa quanto a algumas manifestações artísticas medievais, começando com a arquitetura, a arte funerária da nobreza, vitrais e manuscritos iluminados. Outras artes góticas continuaram a ser consideradas bárbaras e rudes, como a tapeçaria e o trabalho em metal.

Associações sentimentais e nacionalistas com figuras históricas foram tão fortes, neste início de ressurgimento, como interesses puramente estéticos. Alguns poucos britânicos, e logo alguns alemães, começaram a apreciar o caráter pitoresco das ruínas – e pitoresco começou a ser uma qualidade estética – e os efeitos suavizantes do tempo. Os detalhes góticos da Villa Twickenham, de Walpole, apelavam para os gostos rococó da época, e por volta de 1770 arquitetos completamente neoclássicos como Robert Adam e James Wyatt foram capazes de prover detalhes góticos para salas, bibliotecas e capelas para uma visão romântica de uma abadia gótica, a Abadia de Fonthill, em Wiltshire. O Castelo de Inveraray, construído em 1746 com projeto de William Adam, assinala os primeiros sinais neogóticos na Escócia. O estilo Gothick era uma manifestação do artificialismo pitoresco encontrado em outras artes – estes templos ornamentais e casas de verão ignoravam a lógica estrutural do verdadeiro edifício gótico e eram com efeito construções Palladianas, apenas com arcos de ogiva.

A geração posterior tomou mais a sério a arquitetura gótica, e abriu caminho para publicações sobre história da arquitetura eclesiástica na Inglaterra que receberam diversas edições e ainda eram republicadas em 1881, caso da Attempt to discriminate the styles of English architecture from the Conquest to the Reformation, preceded by a sketch of the Grecian and Roman orders, with notices of nearly five hundred English buildings, de Thomas Rickman, escrita em 1814.

Neogótico durante o Romantismo e Nacionalismo

O neogótico francês nasceu como um aspecto menor da anglomania, começando por volta de 1780. Quando Alexandre de Laborde, erudito francês, disse que “a arquitetura gótica tem uma beleza própria”, a idéia era nova para a maioria dos leitores franceses. Em 1828 Alexandre Brogniart, diretor da Manufatura de Sèvres, realizou diversos esmaltes de grandes proporções para a capela real de Luis Felipe.

Arcisse de Caumont lançou sólidas bases para o ressurgimento gótico na França, fundando a Societé des Antiquaires de Normandy, e publicando um grande trabalho sobre arquitetura normanda em 1830. No ano seguinte apareceu a novela de Victor Hugo, Notre Dame de Paris, onde a grande catedral francesa era de uma só vez cenário e protagonista desta obra de ficção que ganhou enorme popularidade. No mesmo ano a monarquia francesa criou o posto de Inspetor-Geral de Monumentos Antigos, ocupado em 1833 por Prosper Merimée, que se tornaria o secretário de uma nova comissão que incumbiria Viollet-le-Duc de relatar as condições da Abadia de Vézelay, em 1840. A seguir Viollet-le-Duc começaria então a restaurar os edifícios mais simbólicos da França, incluindo a Catedral de Notre Dame, Vézelay, Carcassone, o Castelo Roquetaillade, a Abadia do Monte Saint-Michel e o Palácio Papal de Avinhão.

Para o primeiro edifício neogótico significativo na França, a Basílica de Sainte-Clothilde, em Paris, iniciada em 1846 e consagrada em 1857, o arquiteto escolhido foi, significativamente, de origem alemã, François-Christian Gau (1790–1853). Enquanto isso, na Alemanha, começou a renascer o interesse pela Catedral de Colônia, iniciada em 1248 e ainda inacabada na época. Os trabalhos reiniciaram em 1824, marcando a entrada alemã na corrente revivalista. Em seu término, em 1880, sendo o mais alto edifício do mundo naquela época, a catedral foi considerada o ápice da arquitetura gótica.

Em Florença, a parcialmente completa fachada do Duomo, erguida para as núpcias entre as casas Medici e Lorena em 1588-1589, foi desmantelada, e assim permaneceu até 1864, quando foi organizado um concurso para definir uma nova fachada, mais afeita ao estilo da estrutura de Arnolfo di Cambio e ao belo campanário ao lado. O vencedor deste concurso foi Emilio de Fabris, que terminou as obras em 1887 com a policromia e mosaicos que hoje vemos.

Neogótico no Século XX

Na virada do século XX, desenvolvimentos tecnológicos como a lâmpada elétrica, o elevador e a estrutura metálica levaram muitos arquitetos a considerar a cantaria pesada como obsoleta. Estruturas de ferro assumiram as funções de abóbadas de nervuras e arcobotantes. Alguns usaram decorações neogóticas para adornar esqueletos metálicos subjacentes, como no caso do arranha-céu Woolworth Building de Cass Gilbert, de 1913, em Nova Iorque, e a Tribune Tower de Raymond Hood, em Chicago, de 1922.

Em torno da metade do século o neogótico havia sido suplantado pelo modernismo.

Não obstante o revivalismo gótico continuou a exercer influência, até porque alguns de seus projetos mais importantes ainda estavam em fase de construção na segunda metade do século, como a Catedral de Liverpool, de Giles Gilbert Scott. A reconstrução do campus da Universidade de Yale por James Gamble Rodgers, e os primeiros prédios do Boston College, de Charles Donagh Maginnis, contribuíram para estabelecer uma tradição neogótica na arquitetura de educandários americanos. Um arquiteto importante como Ralph Adams Cram, autor da ambiciosa Catedral de São João, o Divino, em Nova Iorque, afirmou que “o estilo concebido e aperfeiçoado por nossos ancestrais é incontestavelmente uma herança nossa”.

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Embora depois da década de 1930 o número de novos projetos neogóticos declinasse rapidamente, alguns ainda apareceram, como a Catedral de Bury St. Edmunds, construída entre 1950 e 2000.

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